segunda-feira, 19 de julho de 2010


Abriu os olhos. Melhor dizendo, descerrou as pálpebras. Há uma grande diferença quando você sabe que o primeiro implica em alto grau de sofrimento. Enfim, quando “abriu os olhos” as coisas em volta eram uma massa disforme, como uma câmera fora de foco. Nem se esforçou para melhorar a visão. Viu uns três vultos sobre si, uma cortina e voltou a dormir.


Acordou novamente. Estava em casa. No seu quarto. E tinha gente lá. Não ficou exatamente feliz com isso. Não estava nos seus planos. Mas, quais eram seus planos, exatamente? Não sabia. Mas não importa. Importa é que estar sendo vigiado no quarto não estava nos seus planos.


Muita gente veio lhe ver e sorria educadamente, ms não ouvia realmente nada, só via vultos com bocas mexendo. Nada além do que já sentia normalmente, exceto que agora essa era a cena que seus sentidos realmente captavam. Isso era bom, pensou. Menos esforço para não prestar atenção no que dizem.


Lembrava (e gostava das lembranças) do torpor. Aquela sensação de cair, cair num abismo; cair numa nuvem e ser engolfado por ela; ter febre e sentir seu corpo adormecer; sair de si próprio. Ah, foi bom. O mundo girou, se apagou e caiu. Foi lindo. Sentiu-se muito bem.


Mas ainda não sabia que resultado queria. Só sabia que tinha sido bom. Então, por que não?, pensou.


Resolveu tomar mais um copo de veneno.