sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pecado Capital

Confesso a mim e a quem quiser: tenho inveja.

Felizmente, acho que por dois motivos não serei expiada por isso: 1) não acredito em uma figura pré-moldada de Deus; 2) ela não tem objeto único e direcionado.

Invejo a criança que reclama do dever de matemática, da professora chata, do 7 que tirou na prova de Ciências. Invejo a pré-adolescente sofrendo pelo amor platônico que não a nota. Invejo o adolescente pressionado para passar no vestibular e que se julga incompreendido porque seu amor-de-toda-a-vida lhe deixou. Invejo-os dentro de sua ingenuidade genuína e arrogante. Eles tem certeza de algo, que pode ser bobo, errado e patético. Mas eles tem certeza.

Invejo os muçulmanos xiitas. Invejo os monges budistas. Invejo os empresários e corruptos adoradores do dinheiro. Eles tem uma justificativa para seus atos e um motor para suas atitudes. Pode ser equivocado, fútil ou prosaico, mas eles têm algo a que se agarrar piamente e que lhes dão força para agir.

Invejo principalmente as balzaquianas. Elas são obrigadas a lidar todo dia com uma imagem irremediavelmente decadente no espelho ao mesmo tempo que têm de trabalhar, criar os filhos e tentar parar o tempo. Algumas também têm até de cuidar de marido e casa. Além, claro, de conter os hormônios e se convencer de que a atenção recebida é suficiente para suprir sua necessidade de receber amor, paixão e colo enquanto têm de dar colo, ser ombro forte e demonstrar amor.

Queria uma ingenuidade pra me dar uma arrogante certeza de alguma coisa. Queria um motivo qualquer pra me motivar a fazer qualquer. Queria força suficiente pra me convencer de que o que tenho me basta, não é preciso colo ou amor. Mas não tenho. Então invejo.

É melhor uma ilusão que te motiva do que uma realidade aterradora.

Porque você tem de ter algo concreto em que se agarrar quando tomar consciência da grande falta de sentido que é lutar uma vida inteira por alguma coisa e no final simplesmente um amontoado de células decompor-se-á embaixo da terra fazendo o que todos os animais devem fazer: ser parte do ciclo da natureza.

Sem grandes missões, sem grandes atos de heroísmo. Um dia percebemos que isso é coisa dos romances. Todos os grandes homens que você admira estão mortos ou morrerão. E em nada vai diferenciar ser grande ou pequeno, rico ou pobre, crente ou infiel, santo ou pecador, quando os vermes comerem seu corpo.





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